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O médico austríaco Franz Joseph Gall (17581828) foi o pioneiro da noção de que diferentes funções mentais são realmente localizadas em di-
ferentes partes do cérebro. Como resultado, ele produziu a Frenologia
(de phrenos= mente e logos= estudo), a primeira teoria completa de localizacionismo cerebral, depois considerada de charlatanismo e pseudociência. Gall
propôs que a forma externa do crânio reflete a forma interna do cérebro e que o desenvolvimento relativo de seus órgãos causam mudanças na forma do crânio, que então poderia ser usadas para diagnosticar faculdades mentais particulares de um dado indivíduo, ao se fazer a análise adequada. A estrutura lógica e fácil de aprender da teoria frenológica rapidamente capturou a imaginação de milhares de seguidores. A precisão e grau de segurança científica destes termos e mapas fizeram grande progresso no tempo em que os principais inimigos do racionalismo eram a religião, a subjetividade e a autocracia. Contudo, logo a frenologia foi atacada pela ciência oficial, que não pôde corroborar a teoria de Gall com achados concretos. Anos depois, a Craniologia se tornou influente
durante a era Vitoriana (meados do século XIX) e foi usada pelos britânicos para justificar o racismo, a colonização e a dominância de “raças inferiores”. Tipos raciais foram classificados de acordo com o grau de prognatismo (um avanço relativo anterior do maxilar em relação a mandíbula) ou ortognatismo.
A antropometria é também um parente próximo da frenologia. No século XIX, um membro da Sûreté (polícia criminal francesa), chamado Eugene Vidocq, instituiu a documentação das características de criminosos para propósitos de identificação, a qual está
em uso até hoje. Um de seus colaboradores, Alphonse Bertillion, expandiu o sistema de modo a tomar várias medidas dos corpos de criminosos, com o objetivo de identificá-los de forma inequívoca (lembre-se que as impressões digitais eram desconhecidas naquele tempo). Entretanto, elas não foram usadas para a avaliação psicológica de criminosos.
Já a Antropologia Criminal surgiu no século XIX, tendo como fundador Cesare Lombroso. Considerada a Certidão de Nascimento da Criminologia, buscou as causas do comportamento criminoso na própria raça, daí o conceito de “criminoso nato”. Ela procura os traços atávicos, ou seja, as marcas primitivas que permanecem no corpo do indivíduo ou em seu caráter (em sua formação moral). Por essa concepção, os indivíduos criminosos são essencialmente diferentes dos demais. Ele pertence à outra categoria de pessoas e deve ser mantido separado, segregado, tratando-se de pessoa perigosa que oferece risco à sociedade. Apesar da teoria estar atualmente superada do ponto de vista científico, a opinião pública e a mídia são constantemente influenciadas por ela, proferindo expressões como: “bandido é bandido e o lugar dele é na cadeia”, “pau que nasce torto, morre torto”, etc.
A vertente contemporânea oriunda desse pensamento é a que trabalha com Inteligência Artificial para apontar criminosos através de atributos faciais. Um recente estudo da Universidade Shanghai Jiao Tong, na China, que alega
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que computadores podem determinar se um indivíduo vai se tornar um criminoso baseado em nada além de suas feições. Em um artigo chamado “Inferência automatizada de criminalidade através de imagens de rostos”, dois pesquisadores da Universidade Shanghai Jiao Tong disseram que carregaram “imagens faciais de 1.856 pessoas” em computadores e descobriram “atributos estruturais distintos que identificam traços de criminalidade, como a curvatura labial, a distância entre as córneas internas e o ângulo entre a boca e o nariz”. Os pesquisadores concluíram que “as quatro classificações têm resultados razoavelmente consistentes e confirmam a validade da inferência de criminalidade automatizada baseada nas feições, embora o assunto seja historicamente polêmico”.
Os autores invocam outro argumento para justificar suas principais conclusões; dizem que computadores
não podem ser racistas, pois são computadores: diferente de um avaliador/examinador humano, o algoritmo ou classificador do computador não tem nenhuma bagagem subjetiva, emoções ou preconceitos baseados em experiências passadas com etnia, religião, ideologia política, sexo, idade, etc. Não apresenta cansaço mental e não reage a ter dormido ou comido mal. A infe-
rência automatizada de criminalidade elimina por completo a variável da meta-precisão (a competência do avaliador/examinador humano). Além da vantagem da objetividade, algoritmos sofisticados baseados em aprendizado de máquina podem descobrir nuances sutis e elusivas nos atributos e estruturas faciais associadas a traços de personalidade inatos, que passariam despercebidas para um leigo sem treinamento. E você caro leitor, acredita que é possível detectar um possível criminoso por suas medidas faciais?
Situada na ilha de em Cuba, passou para controle
dos Estados Unidos em 1903, depois de um contrato
de arrendamento perpétuo da área a sudeste da ilha,
que permitia aos EUA controlar a região e realizar
operações navais.
No período da chamada “Guerra Fria” (1947 –
1991), os Estados Unidos enviam vários prisioneiros
de diversos confrontos militares para a Prisão de
Guantánamo. Como uma prisão militar dotada de
rigidez e também dos interesses ideológicos que
marcaram profundamente o século XX, passou a
conviver diariamente com práticas de tortura.
As atividades da Prisão de Guantánamo se estenderam
também pelo século XXI com muita intensidade. O
ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos, em
2001, resultou
na invasão do
território
do
Afeganistão
em busca dos
responsáveis
pelo
ato.
Em 2002,
Guantánamo
se transformou
em um Centro
de Detenção
de acusados de
envolvimento
com terrorismo e,
como tal, sem os
benefícios previstos
pela
convenção
de Genebra. Um
dos principais
objetivos
desta
prisão é a obtenção
de informações
privilegiadas dos
detentos, fato conquistado através de torturas. Desde
então, 779 pessoas passaram pela prisão sem acusação
formada, sem processo constituído, sendo a maioria de
origem afegã, paquistanesa e iraquiana.
Além de prisioneiros que supostamente seriam terroristas,
a Prisão de Guantánamo abrigou também detentos de
forma clandestina e que não tinham razão justificável
para estarem detidos. Muitos dos detentos que foram
para Guantánamo eram imigrantes ilegais nos Estados
Unidos que aguardavam a deportação.
O Centro de Detenção de Guantánamo registra várias
práticas que desrespeitam os direitos humanos, tais
como torturas, transporte inadequado de detentos,
abuso sexual, espancamentos, intolerância às práticas
religiosas, detenção de crianças, etc.
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Outro
tipo
de
análise para traçar
o perfil criminoso
foi o elaborado pelo
psiquiatra-forense
Dr. Michael Stone,
da Universidade
de Columbia. Ele
desenvolveu
uma
escala que classifica
assassinos
em
série, psicopatas e
sociopatas por meio de
fatores neurológicos,
ambientais e genéticos.
A lista analisa o
assassino, seu crime, o motivo e seu método,
além de analisar a brutalidade envolvida em seus
atos. Ela contém vinte e dois níveis diferentes,
sendo o primeiro “Pessoas normais que matam em
legítima defesa” e o nível mais alto é reservado
para os “Psicopatas assassinos e torturadores em
série”, que são aqueles que possuem o máximo
de perversidade que um ser humano pode
apresentar.
Veja a escala do índice da maldade:
o Matam em legítima defesa e não
apresentam sinais de psicopatia. (Pessoas
normais);
o Amantes ciumentos que cometeram
assassinato, mas que apesar de egocêntricos ou
imaturos, não são psicopatas. (Crime passional);
o Cúmplices voluntários de assassinos:
personalidade esquizoide, impulsiva e com traços
antissociais;
o Matam em legítima defesa, porém
provocaram a vítima ao extremo para que isso
ocorresse;
o Pessoas desesperadas e traumatizadas que
cometeram assassinato, mas que demonstram
remorso genuíno em certos casos e não
apresentam traços significantes de psicopatia;
o Assassinos que matam em momentos
de raiva, por impulso e sem nenhuma ou pouca
premeditação;
o Assassinos extremamente narcisistas,
mas não especificamente psicopatas, que matam
pessoas próximas a ele;
o Assassinos não psicopatas, com uma
profunda raiva guardada, e que matam em
acessos de fúria;
o Amantes ciumentos com traços claros de
psicopatia;
o Assassinos não psicopatas que matam
pessoas “em seu caminho”, como testemunhas –
egocêntrico, mas não claramente psicopata;
o Assassinos psicopatas que matam pessoas “em seu caminho”; o Psicopatas com sede de poder que matam quando estão encurralados; o Psicopatas de personalidade bizarra e violenta e que matam em acessos de fúria; o Psicopatas cruéis e autocentrados que montam esquemas e matam para se beneficiarem; o Psicopatas que cometem matanças desenfreadas ou múltiplos assassinatos em uma mesma ocasião; o Psicopatas que cometem múltiplos atos de violência, com atos repetidos de extrema violência; o Psicopatas sexualmente perversos e assassinos em série: o estupro é a principal motivação e a vítima é morta para esconder evidências; o Psicopatas assassino/torturadores, onde o assassinato é a principal motivação, e a vítima é morta após sofrer tortura não prolongada; o Psicopatas que fazem terrorismo, subjugação, intimidação e estupro, mas sem assassinato; o Psicopatas assassinos/torturadores, em que a tortura é a principal motivação, mas em personalidades psicóticas; o Psicopatas que torturam até o limite, mas não cometem assassinatos; o Psicopatas assassinos/torturadores, em que a tortura é a principal motivação (na maior parte dos casos, o crime tem uma motivação sexual, mesmo que inconsciente).
Esse tipo de tipologia é mais um passo para a ciência entender as mentes dos psicopatas e assassinos em série, mas a verdade é que não se sabe ao certo o que se leva um ser humano a cometer atos tão terríveis já que a realidade é sempre mais complexa que qualquer tipologia elaborada.
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Por: Odirlei Arruda de Lima
Pretendo aqui repassar a você, futuro penitenciarista, alguns conceitos axiomáticos, imprescindíveis para vencer na vida e na carreira, conceitos esses que busquei a ler, compreender, absorver e cumprir, pois foram eles e a minha incansável labuta em prol do Sistema Penitenciário Paulista, que me promoveram a ocupar a função de serviço público tão difícil e desafiadora que é ser um Gestor Prisional.
Quero dizer a você algo que sempre enalteço em minhas reuniões de trabalho: que uma Unidade Penal é uma “instituição de um motor só, porém, com várias engrenagens ontologicamente necessárias para seu perfeito funcionamento”. Que engrenagens são essas, futuro penitenciarista?
São todas aquelas pessoas que ocupam cargos públicos e funções públicas na Secretaria de Estado da Administração Penitenciária. Do servidor de menor graduação até aquele que ocupa o topo da nossa hierarquia institucional. Por isso vamos abordar três itens importantes desta “engrenagem”: saber trabalhar em equipe, saber escutar e praticar empatia.
A importância de se aprender a trabalhar em equipe, algo que você sabe, porém, deveria melhorar esse seu aprendizado. Uma equipe é um conjunto de pessoas trabalhando de forma cooperativa e interdependente para a realização de um objetivo comum. Porém, isso não significa que você sempre irá trabalhar com pessoas das quais gosta e com as quais tem afinidade: “trabalhar em equipe é trabalhar com quem precisamos trabalhar”. Sem sombra de dúvida, se você tivesse trabalhando hoje, com uma equipe de pessoas afins, seria ótimo, mas a competência de trabalhar em equipe pressupõe que você consiga trabalhar de maneira produtiva com pessoas diferentes de você. Quem aprende a trabalhar em equipe aprende que o resultado do relacionamento profissional depende mais de três pilares comprometimento, respeito e cooperação que no final das contas estes valem mais que do que afinidade. Com muito respeito, lhe digo esperançoso penitenciarista, que podemos chegar muito mais longe trabalhando com pessoas unidas pelo mesmo objetivo, haja vista que aprender a trabalhar em equipe, harmoniosamente, é fundamental para a construção de uma carreira sólida. Não podemos esquecer que: “jogadores geniais ganham jogos, ao passo que verdadeiras equipes ganham campeonatos”.
Outro tópico importante a lhe expor é a relutância que você tem em aceitar críticas construtivas. Muitas vezes achando que, aqui em nosso trabalho, elas só devem se originar de sua chefia imediata ou mediata e mesmo assim, de difícil compreensão de sua parte. Entenda que as críticas profissionais construtivas, em algumas situações, poderão vir em uma péssima
“embalagem”, pois muitas pessoas não sabem escolher a melhor maneira e o melhor momento para dizer as coisas. Quando isso acontecer com você, preste mais atenção ao conteúdo da crítica que em sua forma. Seja grato às críticas construtivas: elas são sempre um convite ao aperfeiçoamento e um poderoso remédio contra a sua vaidade. Com a devida permissão, julgo importante pedir a você, no cotidiano da atividade penitenciária, para aprender a escutar e entender que há uma crucial diferença entre escutar e ouvir. Em geral você ouve muito, mas escuta pouco e isso está escancaradamente ligado a sua pessoa no desempenho da atividade carcerária. Daí o ditado popular: “Entrou por um ouvido e saiu pelo outro”. Escutar dá trabalho porque consiste em ouvir com atenção, avaliação e reação. Escutar é “ouvir atentamente”; portanto, é um processo seletivo. Você escuta com maior facilidade aquilo que lhe interessa, e desconsidera (ouvindo sem escutar) aquilo que julga desnecessário, contrário aos seus interesses, ou que não te cativa. Não só ouvir, mas escutar requer um esforço consciente, meu caro profissional. “Para escutar bem, devemos valorizar o que os outros têm a dizer e prestar total atenção ao que está sendo dito (inclusive nas “entrelinhas”), pois o mais importante, na maioria de nossas conversas, é você escutar o que não está sendo dito”. Falta de humildade (acreditar que sabe tudo sobre o tema), arrogância (acreditar que não vai ganhar nada em ouvir o outro colega e os superiores hierárquicos), concentração deficiente, preconceitos e distrações prejudicam gravemente sua capacidade de escutar. Não interrompa o outro e não comece um “diálogo interior” antes de escutar tudo atentamente. Se você, predestinado penitenciarista, continuar a defender internamente seu ponto de vista enquanto o outro fala, passará a ouvi-lo e deixará de escutá-lo. Não prejulgue o que está escutando. Escute tudo primeiro, depois reflita, e só então tire suas conclusões. Saber escutar vai ter um impacto decisivo na sua carreira e na qualidade dos seus relacionamentos profissionais, principalmente com os seus superiores hierárquicos.
A última dica é que você pode praticar também a empatia com seus colegas de trabalho, pois viver profissionalmente em equipe é sinônimo de relacionamento e não devemos agredir os outros com a nossa forma/modo de nos relacionar.
As ponderações enaltecidas podem estar sendo dirigidas a você por inúmeras razões, mas a principal delas é para torná-lo um verdadeiro penitenciarista, que tem o devido cuidado com a credibilidade, que só é conquistada com o passar do tempo e em relacionamento caracterizado por atitudes sucessivas e suficientes para demonstrarem a qualidade de nosso caráter e profissionalismo.
Por tudo isso penitenciarista, reflita e fortaleça a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência de sua conduta profissional.
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